Incluir a Turquia na Europa seria, para os europeus, a idéia arrepiante de fazer fronteira com o Irã. Deixá-la de fora é deixar claros os arrepios da idéia de ter uma fronteira dessas. Hoje, o Sarkozy - sob quem viverei tempos incógnitos - apresenta sua mágica. Uma União Mediterrânea. Fora da Europa.
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Retrospectivas 3: a Turquia
Incluir a Turquia na Europa seria, para os europeus, a idéia arrepiante de fazer fronteira com o Irã. Deixá-la de fora é deixar claros os arrepios da idéia de ter uma fronteira dessas. Hoje, o Sarkozy - sob quem viverei tempos incógnitos - apresenta sua mágica. Uma União Mediterrânea. Fora da Europa.
sábado, 18 de agosto de 2007
Retrospectivas 2: Estônia/Letônia
É que devem existir várias companhias aéreas que fazem Istambul-Moscou, mas a questão toda é que o fenômeno das low cost ainda não chegou nessa rota, e isso sairia fácil uns 400 euros. Então descobri a Air Baltic, que tinha preços de Sky Europe pro maior trajeto de toda a viagem, cortei um dia de Moscou e um de São Petersburgo e resolvi conhecer Riga, Letônia, e Tallinn, Estônia. Uma boa idéia.
Enfim independentes, após a 1ª Guerra Mundial e o fim dos impérios do Leste, não demorou para a União Soviética decidir se estender até o mar e aceitar, de coração aberto, proteger essas pequenas repúblicas indefesas, enviando para a Sibéria ou sumindo com vários bálticos azarados no processo. Na década de 90, com o fim da URSS e do tal socialismo real (às vezes real demais) esses países, aí sim independentes, como bons meninos, em menos de 10 anos aderiram à OTAN e à União Européia. Agora vai.
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Retrospectivas 1: a Rússia
Curioso um uísque irlandês ter catalisado esta retomada das minhas impressões. No total, 15 países em 80 dias, ou, como é costume nesses casos, 79. E, sendo verdade que até pelas dificuldades com os teclados do oriente os últimos países foram os menos comentados, vou vindo em sentido contrário seguindo a própria trilha até chegar, como João e Maria, de volta nessa cidade mais exótica de todas chamada São Paulo.Depois de um mês numa Europa cada vez menos oriental, o que se vê nas velozes avenidas e grandes praças da Rússia são os sinais de que sim, você está num BRIC, um país prometido. Guardadores de carro ajudando a manobrar Audis e seguranças de terno deixando entrar apenas as pessoas certas nos GUMs e TSuMs, antigos postos de distribuição comunistas transformados em shoppings reluzentes (não, essa primeira foto na Praça Vermelha não é de um prédio público), nos dão a certeza de que a economia de mercado está mudando a vida desse povo tão reprimido. E embora meu Lonely Planet enfatize não poucas vezes que entrar nesses lugares é uma boa forma de acabar com a imagem dos russos fazendo fila para receber pão e manteiga, fica claro o erro de metodologia - falta o grupo de controle, quer dizer, na Nova Rússia ninguém está distribuindo nem pão nem manteiga. Compreende-se a ausência da fila.
Outra novidade de cruzar esse novo Muro da União Européia é encontrar sem querer um país com uma vida própria, quer dizer, onde os turistas devem integrar-se ao modo russo, e não o contrário. Isso dificulta a vida. Ao contrário do que acontece em Estônia, República Tcheca ou Croácia, não dá pra simplesmente pedir informação em inglês a qualquer transeunte, sem aprender nem o equivalente local de Vi gavarite pa angliski?. Eles não só não falam inglês (incluindo a New Generation que só se veste em inglês) como não fazem esforço nenhum pra te ajudar.
Quer dizer, aqui preciso fazer uma distinção que diz muito sobre quem são os russos e até pode ajudar a lê-los no futuro. Talvez por resquício de outros tempos que daqui procuramos esquecer e fazer com que eles esqueçam, um russo do qual você tente comprar uma mercadoria nunca vai se mover um milímetro além do necessário, e inclusive chegamos a nos perguntar quem, afinal de contas, é o interessado na transação. Não deveria ser o vendedor? - e isso mesmo quando estamos comprando algo que nos interessa muitíssimo, ou seja, esperamos um comportamento no mínimo de amabilidade forçada, numa palavra a helpfulness, definida na wikipedia como “(1) the property of providing useful assistance, and (2) friendliness evidenced by a kindly and helpful disposition [syn: kindliness]”. Algo entre a utilidade e a amizade.
Não o russo. O russo, se o que você procura não é exatamente o que ele vende ou faz, nem mesmo te indica a cabine de informações. ‘Nieto’ é tudo o que você consegue arrancar dele, até desistir e tentar descobrir sozinho o que fazer ficando 15 minutos decifrando placas em cirílico no processo. Contudo, se você conseguir minimamente quebrar essa relação e parecer uma pessoa que precisa de ajuda, e não um turista-consumidor, o russo vai com você até o outro lado da cidade, encontra um intérprete de uma língua comum e inclusive oferece pra pagar alguma coisa se você não tiver dinheiro. Sem perguntar pelo dólar no final.
Foi minha experiência numa última noite apelativa em Moscou, na qual decidi inconseqüente que não só iria ficar acordado até o avião das 7h35 como iria atrás de um bar numa quarta-feira, sem conhecer a cidade.
Recebi consecutivas ajudas dos garçons dos lugares vazios até achar um lugar com gente, dos russos bêbados que me indicaram a insanidade de tentar chegar no aeroporto com qualquer minuto menos das 2h de antecedência (não é exatamente uma democracia de mercado, e se o policial decidir que você tem que responder umas perguntinhas, o você perder o avião não é nenhum problema para ele), do taxista não-taxista (qualquer carro na Rússia é um táxi em potencial, basta estender a mão), de um rapaz bêbado no metrô e das vendedoras dos bilhetes do trem errado, no minuto em que elas acharam que o rapaz bêbado podia causar mais problemas do que ficar me seguindo com a garrafa. Me levaram até o quase-impossível-de-achar trem secundário pro aeroporto, que saía às 4h41 e não às 6h00, hora do primeiro expresso. Bem precário e pinga-pinga, mas cheio de russos de verdade e o suficiente pra me fazer chegar ao aeroporto às 5h50.
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Itinerários
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Fase 2:
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- Moscou
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Ia nie gavariu ruski
- Niet.
- Franzoski?
- Niet.
- Niemetzki?
- Tchu-tchu.
- Hm. Oder...
(24 horas e contando. Acho que voltando faço uma retrospectiva em sentido contrário. Agora, o prêmio de povo menos prestativo do mundo vai pros russos, com certeza.)
sábado, 4 de agosto de 2007
Aviso
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Letônia
Belo paisinho por aqui, nada de camadas geológicas de história, que entre Chaves, Portugal, e Efes, Turquia, estava que se eu visse uma ponte romana em São Petersburgo ia acabar me jogando dela.
(em tempo, ante que os novos sábios powered by google intervenham: não ia ter ponte romana em São Petersburgo)
O que vale por aqui é a história recente, mesmo, essa que não fica tão legal como fundo de foto, embora claro que turistas não costumem ter esses pudores e qualquer instrumento de tortura esteja valendo, depois de um certo tempo. Ou seja, hoje é museu da ocupação de Riga e bora pra outra cidade, também felizmente fora do circuito mochileiro. Talinn.
segunda-feira, 30 de julho de 2007
sábado, 28 de julho de 2007
Ílion de altas muralhas
sexta-feira, 27 de julho de 2007
Capítulos
P.S. - Metade das frescuras acima é porque acento neste teclado é complicado, e lembro solamente do a, e e i agudos. Ok?
No oriente
(i) primeiro, depois que o Roberto Carlos resolveu jogar na Turquia, qualquer um com uma camisa do Brasil é rei aqui;
P.S. - O Grande Continente ainda é uma promessa malfeita. Aqui, atravessando a Grande Ponte, se chega de novo na Europa. Pra pensar. Ou não.
quarta-feira, 25 de julho de 2007
Esperam os Bárbaros
Em Viena além das preciosas dicas da Carol Marossi, minha guia foi a eslovaca Zuzana, que conhecemos em/na Bratislava e que estuda psicologia na capital habsburga. Rodamos a cidade com o Donau e a Stadtoper e as pessoas fantasiadas de século XVIII oferecendo cultura na forma de concertos de Mozart, Haydn ou Strauss. Não caímos nessa e de caro mesmo nessa cidade fiquei foi com a torta Sacher indicada pela Carol no Hotel Sacher. A Zuzana disse que dessa torta a única coisa que ela sabia era que era doce demais. Muito boa, mas bingo.
De Viena um rasante pra Sofia, Bulgária, que me impressionou pela falta de coisas, depois que tive umas várias indicações de a cidade ser maravilhosa e etc. Tem realmente uns prédios que valem a pena ver, se você estiver por acaso numa conferência na cidade e tal. Agora, perto de outros lugares por aqui, sei não. Aqui de onde escrevo, Veliko Tarnovo, vale bem mais.
E agora preciso pegar meu carimbo de saída da UE e passar pro perigoso mundo dos países que tememos porque não conhecemos direito. Até lá.
sábado, 21 de julho de 2007
Primeira conversa em alemão
Eu - Verzeigung, kennen Sie mir helfen? Ich möchte nach Praha fahren.
Alemão - (alemão, alemão,...)
Eu - Wo müß ich gehen?
Alemão - (aponta para a placa parede e alemão, alemão, alemão...)
Eu - Aber wo is Praha hier?
Alemão - (alemão, alemão) Siebzehn, (alemão, alemão, alemão, aponta) nexter.
Eu - (olho para a plataforma 17, pra onde ele está apontando) Vielen Danke.
Estar em dois
O que parou nesta página foi porque aquelas horas passadas fazendo manutencão acabam ocupadas por conversas outras e talvez até mais sinceras do que aquilo que se escreve pra um público tao sinuoso e com tantas amarras pregadas quanto vocês involuntariamente já que, como eu ia dizendo pra uma amiga outro dia, o primeiro que superar o Ego nao vai se dar ao trabalho de nos escrever do além, ou seja, permanecemos assustadoramente sozinhos.
Com o Milaré por aqui então a viagem adquiriu uma cara mais digamos sal-sol-sul, e na nossa bolha de mergulhos no Adriático so somos interrompidos pelos ventos esparsos que insistem em nos atingir desde Congonhas ou Brasília - que por nós a Copa América era tudo que saberíamos de nossas palmeiras por esses nossos dias. De resto, apenas fotografar os arcos do triunfo esquecidos de Brecht.
Tudo isso pra dizer que hoje partimos caminhos, como eles dizem por lá, e eu ainda devo pra vocês umas fotos nossas entre os leste-europeus, posto quando puder. Pra esquentar digo que o caminho foi, Atlas na mão, Praga-Cracóvia-Bratislava-Budapeste-Pula-Ljubljana, e agora sigo pra Viena de onde me atiro em direção ao Leste hardcore, onde meu Führer (e vejam que os alemães sempre têm algo a nos ensinar, Audioführer é uma palavra que atinge o ponto e vira o tabuleiro do checklist de museus e igrejas) diz pra tomar mais cuidado, com o bandido como com a policia. Mas minha mãe vai ficar aliviada se der uma olhada no que eles recomendam em São Paulo (ter o dinheiro do ladrão, como meu pai sempre me ensinou), o que nos deixa seguros quanto a Bulgária, Turquia e Rússia. Cirílico faltei nas aulas de Dan Rolim e ainda vou ter que dominar, mas o Dóbri Den é universal por aqui, e só com ele e com o passaporte verde já vamos nos entendendo. Como disse o inglês wittingly resumindo tudo, it's a nice place to come from.
sábado, 14 de julho de 2007
Por trás das cortinas
Por aqui persistem os castelos e templos, com a importante diferença de que tenho um companheiro mais permanente, por um tempo, o Rafael Milaré, que voa de Ljubljana de volta pra Londres no dia 21.
O que o Leste tem além do Oeste é a perigosa sensação de que ainda podem acontecer coisas no mundo. Meu guia, verdíssimo quando fala de créditos de carbono e enterro de dejetos humanos, sabe diferenciar bem uma fantástica parte medieval preservada de uma triste parte comunista que ninguém teve pulso pra demolir. A gente gosta de história, mas muito bem diagramada, como diria aquele filho do Mário Prata.
Os highlights então são, em Praga, o Museu do Comunismo, e, ao lado da Cracóvia, Auschwitz.
O Museu do Comunismo é uma instituição privada, possuída ao lado do McDonald's de Praga e no mesmo prédio de um cassino, por um empresário americano desinteressado. O símbolo é uma bonequinha russa com dentes de monstro, e os textos e objetos tratam basicamente dos horrores da imposição do modo comunista de vida ao anteriormente feliz povo do Leste da Europa. Quando visitar os impositores do Norte, posso falar mais. Pausa.
Auschwitz, agora uma cidade dona de um nome em Polonês que quem quiser acha, é na parte que todos visitamos um enorme museu, do Estado polonês, sobre os horrores da imposição dos trabalhos forçados aos prisioneiros da Europa toda, coroada pela idéia de extermínio da raça judia (expressão conforme decisão do STF). Tudo bem o museu e os guias não pararem um segundo pra discutir a ideologia - muitas feridas abertas, e vai saber que tipo de gente ainda tem no mundo - mas vamos tentar distorcer um pouco os fatos a ver se assim enxergamos melhor.
Várias das cidades da Espanha e de Portugal, assim como Praga, têm um bairro judeu, isto é, histórico, do século XIII ou XVI ou XIX. Não é que eles quisessem muito viver juntos e amuralhados. O confinamento e a expulsão aconteceu várias vezes em vários países da Europa. Como mostrou o Al Pacino, na bela Florença e na bela Veneza a vida deles também não era uma maravilha. A novidade de Auschwitz não está no ódio, nem na crueldade dos guardas (que aparentemente não pertenciam à nossa espécie, mas eram um tipo de gente que nasceu malvada), nem na existência de trabalhos forçados (que queremos implementar nas nossas penitenciárias) para fazer girar uma economia de guerra.
A novidade de Auschwitz - é preciso dizer - é a linha de produção, a sociedade industrial. A aplicação das novas técnicas e da mais moderna tecnologia permitiu realizar, com muito mais eficiência, um trabalho no qual os governos de vários países europeus se empenharam por alguns séculos. Os escravos da raça negra (expressão pendendo decisão do STF) no nosso Império dos Trópicos tinham uma prerrogativa simples, que era a impossibilidade de a cana crescer mais rápido. Por outro lado, a Primeira Globalização dotou a Europa de uma fantástica rede de estradas de ferro, através da qual foi possível transportar para um pedacinho do Reich alguns milhões de pessoas em tempo recorde.
A união de uma tendência histórica com as novas técnicas, tradição e modernidade, permitiram o horror na escala Auschwitziana. Não sei quanto é absurdo dizer que os horrores do comunismo são simplesmente o outro lado da moeda da implementação da sociedade industrial em economias anteriormente agrárias.
Sei que não lembro de Londres ter um Museu das Fábricas da Primeira Revolução Industrial. E que os pavilhões do Carandiru foram removidos para dar lugar ao bonito Parque da Juventude, uma conquista do povo paulista.
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Pra quem sente falta de poesia
Mão de estátua
Templo. Coluna. Arco do triunfo.
Mil duzentos e cinqüenta.
Qualquer pedra na Europa
é supeita de ser mais do que aparenta.
Felizes as pedras da minha terra
que nunca foram senão pedras.
Pedras,
a lua esfria
e o sol esquenta.
(lmnsk, não conferido)
terça-feira, 10 de julho de 2007
Holanda
(1) Nem sei sobre a coisa dos coffee shops. Depois de uns quatro dias, a gente até fica feliz que no nosso país não é liberado. Fica sendo assim uma coisa turística, uns dias meio apagados andando entre um e outro bares da fumaça, que as pessoas fazem por medo que acabe. Um pouco como aproveitar o último ano da faculdade. Mas a maior sacada é uma lei que impede de vender álcool, maconha e cogumelos no mesmo estabelecimento: uma droga em cada lugar. Claro que sempre vai ter um que vai fazer uma besteira, mas desse jeito fica bem mais difícil responsabilizar o estabelecimento. O indivíduo, agindo no seu livre-arbítrio, escolheu se intoxicar com várias substâncias diferentes. Meu cliente só vende uma delas, e as pesquisas científicas comprovam que não há nexo de causalidade entre ela e o dano sofrido.
(2) Bairros da Luz Vermelha. Como os coffee shops, tem por toda a Holanda, não só em Amsterdã. Na Haia tinha um pequeno, no caminho entre meu albergue e o Centro. Dez da manhã, frio e as mulheres chegando, cumprimentando o cara da quitanda, trocando de roupa e iniciando pontualmente a jornada de trabalho. Cinco da tarde, volta pro albergue, e a loira de lingerie ainda lá, piscando recepcionista pros caras na rua e olhando furtiva pro relógio que marca o tempo de cada cliente como marca a hora dela, torcendo pra dar 6 horas logo e ir pra casa assistir Friends.
(3) Palácio da Paz, Corte Internacional de Justiça e Academia da Haia. Fantástico, o Judiciário do Brasil tinha muito o que aprender com eles. Uns 30% da mão-de-obra, incluindo quase toda a parte técnico-jurídica, é voluntária, ou seja, não ganha nem um centavo e trabalha lá de dois meses a um ano. Privilégio de poucos, processo seletivo dificílimo. Vamos ver daqui a um ou dois anos.
(4) Resolvi vir pra o Leste de uma vez. No momento, Praga. Amanhã, Cracóvia. Acho.
(5) Isso não é verão. Onze da manhã e eu lavando roupa com dois casacos. Comprados aqui, que pra mim julho era julho mesmo no norte. Não é não, e meus novos amigos suecos dizem que assim já tá ótimo.
sexta-feira, 6 de julho de 2007
Finalmente Andaluzia
A maioria dos mochileiros brasileiros, que tem que percorrer toda a Europa em umas poucas semanas, faz a Espanha só com 3 dias em Madri mais 3 em Barcelona. Legal, vai. Talvez seja um desses erros que, como o Guggengheim Bilbao, cada um tem que cometer por si. Mas eu desde que estive nesse país quase todo venho dizendo, O que pega é a Andaluzia! Retomando o que já falei umas vezes, aqui é onde está a Espanha espanhola, mesmo, um pouco como na Bahia e no Rio é onde está o Brasil brasileiro - e os paulistas podemos ficar cantando marchinha de carnaval a vida inteira sem conseguir sensibilizar um gringo que seja.
Sobre Sevilha já dei uma idéia, mas chegar a Córdoba trouxe de volta a impressão andaluza, numa tonalidade diferente o suficiente pra manter o maravilhamento. Enquanto Sevilha tem a Catedral e La Giralda, Córdoba tem uma Mesquita inteira e um Alcázar dos Reis Católicos. Se ao redor da Catedral sevilhana se aglomeram casas todas coloridas e com azulejos trabalhados, Córdoba é perfeitamente branca, como vários dos pueblozinhos que se vêem percorrendo o país por terra. O antigo bairro judeu permanece um labirinto de casas caiadas e ruas estreitas, e chegar lá pela manhã é encontrar os espanhóis limpando suas fachadas e varrendo suas ruas, com o privilégio de encontrar uma mesquita quase sem turistas onde ainda se reza uma missa.
(por sinal, algo de meio esquizofrênico. Assim: depois da Reconquista, a Mesquita foi entregue pra Santa Igreja, que destruiu o meio do templo e construiu uma catedral católica *dentro* da Mesquita. Essa catedral, por sua vez, ainda abriga os cultos católicos, tem bispo e tudo. Ocorre que milhões de turistas se apertam lá todos os anos não, óbvio, pra ver uma catedral bizarra e meia-boca, mas pra ver a maravilha da floresta de colunas e arcos da Mesquita. O resultado é que eles te cobram dez euros (menos entre as 8h30 e as 10h00, rá) pra ver a maravilha da criação muçulmana, mas recebem um panfleto sobre 'A Catedral de Córdoba' e que fica justificando o chegar primeiro dos cristãos na catedral lembrando de um passado visigótico, do século VI, quando provavelmente tinha três pedras no local, e não uma maravilha do mundo que eles detonaram pra fazer o seu templozinho. Claro que o segundo gume dessa argumentação, ou seja, de que uma vez que a questão da propriedade pode ser discutida com base na propriedade histórica, os muçulmanos poderiam fazer suas próprias contas sobre o assunto, é ignorado.)
O Alcázar parece ser uma coisa assim assim quando você entra, porque o que tem de melhor são uns mosaicos romanos que nem lá estavam, mas que foram encontrador perto e colocados ali como num museu meio fora de lugar. Mas conforme os jardins vão se sucedendo e ficando mais e mais pirotécnicos, não tem como não admirar a obra dos Reis Católicos e do Carlos Quinto. Ouço até o TVI fazendo o comentário de que mais 50 anos de monarquia e o Brasil com certeza tinha um desses. Com mais 50 de escravidão, pode até ser.
Córdoba exagera um pouco seu passado tolerante, mas a propaganda pra ser capital cultural da europa, com seus sabidos medievais judeus e árabes, segue forte.
Depois de Sevilha e Córdoba, Granada é, hm, legal. Fiz o circuito, visitei a Alhambra duas vezes, de dia e de noite, e sim, tem umas coisas bacanas, o teto do Palacio Nazari é esplendoroso e tem jardins e tal, mas não chega a impressionar, avassalar como nas outras duas cidades. Mais legal que isso é que Granada é uma cidade ainda viva, com o bairro antigo funcionando e com ladrões que o guia manda tomar cuidado e uma mesquita construída pros novos habitantes maometanos (aliás, medo: em Portugal, vi um cara desses carecas gordos de barba-ruiva com uma camiseta, Reconquista - Fizemos uma vez, Faremos de novo; e ele atendia sorridente num posto de informações pra turistas, mostrando que a Europa tem mesmo essa coisa de tolerante mesmo que nosotros latinos acabamos não entendendo direito). Enfim, essa de a Alhambra ser maravilha do mundo só vale se estiverem faltando maravilhas, mesmo.
(pausa pra reflexão sobre a eleição, por voto por telefone e internet, de 7 novas maravilhas do mundo, http://www.new7wonders.com/, your chance to take a part in the making of history. Gostaria de lembrar um episódio injustamente esquecido da história recente do Brasil, no qual a Rede Globo de Televisão inventou de fazer uma eleição popular para a mulher mais bela não do ano, nem da década, tampouco de um setor específico como as telenovelas da Rede Globo que estivessem sendo transmitidas na época da votação. Foi um concurso para a mulher mais bela do século, de 1901 a 2000. Vencedora: Maria Fernanda Candido, que se encontrava fazendo a Paola de Terra Nostra no momento em que a pesquisa foi conduzida.)
Acabei indo num segundo flamenco, que eu realmente precisava, e usando a cidade pra conhecer australianos, holandeses e o mexicano Pedro, que me acompanhou no maravilhoso mundo de los toros!
P.S. - Fotos quando tiver um lugar que me deixe usar.
P.P.S. - Está ficando progressivamente mais difícil escrever com acentos e tal, conforme vou pro Leste. Quero ver Turquia e o teclado russo.
terça-feira, 3 de julho de 2007
Toros!
segunda-feira, 2 de julho de 2007
Introduçäo às touradas
02/07/2007
Consumismo excessivo é a marca do novo movimento verde
De Alex Williams
Eis aqui uma imagem popular referente à salvação do planeta: deixe o aconchego dos suntuosos lençóis de fibra de cânhamo na sua cama, vista uma calça de algodão orgânico da Levi's, de US$ 245 e uma camisa de tricô biodegradável da Armani.
Saia do seu quarto, movimente-se pela casa eco-McMansion, dotada de painéis solares fotovoltaicos, e dirija-se à cozinha remodelada com madeira reciclada. Entre na garagem para três carros iluminada com lâmpadas fluorescentes que consomem pouca energia e sente-se atrás do volante do seu Lexus híbrido de US$ 104 mil.
Dirija até o aeroporto, e embarque num vôo de 12,8 mil quilômetros -- tomando o cuidado de comprar direitos para o consumo de carbono -- e passe uma semana jogando bolas de golfe feitas com comida de peixe compactada em um eco-resort nas Ilhas Maldivas.
Essa imagem de uma vida eco-sensível baseada em uma série de escolhas a respeito do que comprar atrai milhões de consumidores e sem dúvida define o atual movimento ambiental como preocupado ao mesmo tempo com o destino da Terra e com uma vida de estilo.
Escolha ecológica
Segundo um relatório divulgado recentemente, cerca de 35 milhões de norte-americanos compram regularmente produtos comercializados como ecológicos. A diversidade desses produtos é muito grande, abrangendo desde os batons de cera de abelhas orgânica da floresta tropical do oeste de Zâmbia até os automóveis Toyota Prius. Com passos graduais, um número cada vez maior de consumidores procura o que deseja no catálogo de 60 mil produtos disponível no novo programa Opções Ecológicas da Home Depot.
Tais escolhas estão na moda neste momento em que as celebridades preocupadas com o aquecimento global aparecem na capa da 'edição verde' da revista "Vanity Fair", e astros populares como Kelly Clarkson e Lenny Kravitz se preparam para agir em prol do planeta nos concertos da série Live Earth, em 7 de julho, que ocorrerão em diversos locais de todo o mundo.
Os consumidores abraçaram o estilo de vida verde, e em grande parte o movimento verde tradicional adotou o consumismo verde. Mas até mesmo neste momento de alta visibilidade e impacto para os ativistas ambientais, uma facção dissidente do movimento passou a criticar aquilo que à vezes chama de "verdes light". Esses críticos questionam a idéia de que possamos reverter o aquecimento global comprando os produtos rotulados de "amigos da Terra", entre os quais estão roupas, carros, casas e férias, quando o efeito cumulativo do nosso consumo continua sendo enorme e perigoso.
Como ser 'eco-sexy'
"Existe atualmente uma idéia bastante generalizada segundo a qual tudo o que precisamos fazer para evitar catástrofes em escala planetária é tomar decisões de compra ligeiramente diferentes", critica Alex Steffen, diretor-executivo do Worldchanging.com, um website dedicado às questões relativas à sustentabilidade. A solução genuína, segundo ele e outros críticos, é reduzir significativamente o consumo de bens e recursos. Não basta construir uma casa de férias com madeira reciclada. A maneira real de reduzir as emissões de carbono é ter apenas uma casa.
Comprar um carro híbrido não ajudará caso este seja o Lexus mencionado acima, o luxuoso modelo LS 600h L, que faz 9,3 quilômetros por litro na estrada; o Toyota Yaris (US$ 11 mil) faz 17,3 quilômetros por litro nas rodovias com um motor comum a gasolina.
É como se as milhões de pessoas que os ambientalistas conseguiram convencer com sucesso a se preocuparem com o aquecimento global estivessem passando por um momento do tipo "coma bem e à vontade": ao se depararem com uma caixa de biscoitos de chocolates sem gordura, que acabam de maneira deliciosa com qualquer sensação de culpa, esses indivíduos comem o conteúdo inteiro da caixa, evitando a gordura, mas empaturrando-se de calorias.
A questão do consumismo verde está chamando atenção para uma divisão no seio do movimento ambiental: "Os ambientalistas da velha guarda baseada na auto-abnegação versus esse grupo que deseja comprar uma espécie de caminho para os céus", diz Chip Giller, fundador do Grist.org, um blog ecológico que alega contar com 800 mil leitores por mês. "Nos últimos dois meses tem aumentado a preocupação do campo tradicional em relação às extravagâncias do novo movimento verde -- do tipo '55 maneiras maravilhosas de ser eco-sexy'", diz Giller.
"Entre os verdes tradicionais, existe o temor de que grande parte da população acredite que exista uma solução fácil para esse problema de dimensões planetárias".
Tradução: UOL
Visite o site do The New York Times
sexta-feira, 29 de junho de 2007
Duas capitais ibéricas
Dito isso, Toledo é interessante, uma cidadezinha medieval preservada e tal, vendem espadas e armas medievais na cidade toda. O que me permite fazer um parêntesis que eu esqueci de fazer em A Coruña: nesta última cidade estava rolando uma gigantesca exposição, que está rodando a Espanha e talvez o mundo, fazendo enorme sucesso, de armas e armaduras e materiais, usados no Senhor dos Anéis. O que eu achei curioso, na época, é que, num país onde existem coisas medievais de verdade pra se ver, junta fila pra ver coisas medievais de mentirinha.
Mas é pior que isso. As lojas de Toledo, cidade famosa pela fabricação de armas medievais, estão abarrotadas, em primeiro plano, de espadas dos heróis da trilogia de cinema, compre a espada do elfo e etc. Em volta disso, um monte de cavaleiros medievais, e aqui e ali um Quijote e um Sancho. Não dá pra entender muito, porque se não fosse pela meio bobagem intrínseca da coisa, até do ponto de vista comercial é um erro: valia muito mais a cidade se encher de bugigangas do cavaleiro da triste figura, e criar uma enorme imagem em cima disso, do que ficar pagando royalties pra um gringo qualquer aí. Mas talvez a chave esteja exatamente aí, né?
De Toledo passamos pra Lisboa, cuja maior jóia é a To
No dia seguinte, depois de uma caminhada pelas igrejas e pontos turísticos não-museus (algumas coisas interessantes, nada deslumbrante), ia almoçar com um primo, o Mário Vidigal, que mora em Madri há entre 5 e 10 anos, e o que seria um almoço rápido acabou anulando a tarde. Conforme ele ia contando a história de vida, eu ia ficando com aquela sensação mesma de quando a avó do Danilo, em Barcelona, começou a contar sobre a Guerra Civil Espanhola. O cara fazia São Francisco, largou pra ser colunista de jornal e depois virar promóter, como se diz hoje, quando essa palavra nem existia; depois começou a trabalhar com eventos, veio sem idéia do que fazer até Madri e, muitos e muitos percalços depois, acabou virando guia turístico e passa metade da vida viajando. Próximo destino: China. Daí que a gente vê que há tanta coisa aí pra ser vivida e a maioria das pessoas está ocupada pensando na cor do seu próximo sofá.
Duas coisas:
(1) Comprei ingressos pra uma novilhada, isto é, tourada com touros jovens, neste domingo. Me renderam umas boas conversas com gente que é contra e etc. Quero falar um pouco disso mas vamos esperar acontecer. É neste domingo.
(2) É comum o ônibus ser mais barato que o trem. Se você estiver viajando, isso pode ser um bom motivo pra ir de ônibus. Mas tem o seguinte: pegue o trem noturno, ou pegue o ônibus. Ônibus noturno aqui é muuuito ruim, e o motorista acha que você tem obrigação de tolerar o gosto musical dele. É até estranho, porque lembro de viagens noturnas de ônibus no Brasil, pro Sul ou pro Rio de Janeiro, e nenhuma foi tão ruim quanto minhas 5h entre Madri e Córdoba.