segunda-feira, 30 de julho de 2007

Tentando responder pro pessoal aí de baixo, os últimos dois dias foram assim:
Saí da cosmopolita e européia-wannabe Istambul (concorre com Gradada pra ser capital cultural do continente em 2010, o que diz algumas coisas sobre o que ocorre por aqui) pra sondar impérios antigos na costa asiática dormindo nos autobuses. Esse primeiro objetivo foi só parcialmente cumprido, porque aqui o conceito de busão noturno inclui músicas pop turcas, luzes acesas e, quando menos se espera, um mp3 giganteco com piadas em turco.
De forma que cheguei pregado a Çanakkale, tomei qualquer coisa com cafeína, rodei a cidade e entrei no primeiro grupo de turistas pra Truva (Tróia), como está aí embaixo. Depois de ouvir a guia falar umas muitas bobagens e passar reto em várias partes, decidi que não ia cometer o mesmo erro no próximo império. Então voltando de Tróia já embarquei pra tal Izmir, onde não só tinha a Elif, do meu Master, como podia ser que encontrasse a Jéssica. Acabou que nem uma nem outra, e meu companheiro foi o Maarten, de Utrecht (terceira pessoa de Utrecht na viagem, deve ser uma São Paulo), Holanda. Saímos pra procurar albergue e descobrimos um negócio no fim interessante.
A cultura backpacker, gente jovem reunida rodando o mundo, na verdade é 100% européia. Botou o pé noutro continente (escolhe aí qual), esquece. Os guias falam que é perigoso pra mulher, as minas não chegam pra cá, os caras tampouco, e quando menos espera você não só é o único turista no busão como é a única pessoa a falar alguma língua ocidental. Ou seja, muito Brasil, Roberto Carlos, Texecur Edêrim, Lütven e mímica.
Pelo mesmo motivo, acomodação barata na Europa é albergue com a galerinha legal, where are you from, cool, it's sooo nice; acomodação barata noutras plagas é ficar com o povo do lugar mesmo e provavelmente num labirinto de gente, robes coloridos, burcas e narguilês, uma experiência que só melhora quando você perde seus óculos de noite em algum lugar no Estreito de Dardanelos.
Acordamos e eu e o Maarten fomos explorar Izmir, que é assim assim feito o Rio de Janeiro em 2020, quando a água tiver tapado Ipanema e tiver um grande muro com um porto no lugar. Com direito a pracinha romana e tal, mas na falta da Elif e com a Jéssica indo pruma praia qualquer, eu queria mesmo era ver a tal Efes. Peguei o autobus do meio dia.
Assustadora a cidade. Sempre que você achava que eles meio chutam como viviam os romanos, assim como você achava e de vez em quando ainda acha que eles chutam várias coisas sobre o que os escritores escrevem e nem a pau que eles pensaram naquilo tudo (como se escrever um livro fosse coisa assim, feito escrever um blog, que as palavras vão entrando sem a gente se importar e escapam coisas obscuras demais), bem se você tem alguma dúvida precisa ver isso. Não são umas ruinazinhas de ágora como tem por aí, é tipo assim uma cidade inteira, rua principal, rua secundária, estádio grande pro povão, estádio pequeno pros políticos fazerem escaramuça, a fachada de uma biblioteca intacta, várias estátuas e casas incluindo propriedade horizontal, pichação mandando mijar noutro lugar, enfim, só faltou um tio de toga tomando vinho com mel e falando latim (acho que isso só em Pompéia).
(outro comentário: aqui, como na Bulgária, tem muito pouca guarda nos lugares turísticos. Se isso é ideal pra quem quer olhar as coisas direito, por exemplo ir em todos aqueles lugares onde não deixam a gente ir só porque tem risco de morte e fazem uma passarela isolando você-turista e o lugar-monumento, por um outro lado existe muita gente idiota no mundo, por exemplo montando numa estátua de 3 mil anos pra tirar foto ou escrevendo o nome na coluna com uma pedra - e, na falta de lei marcial pra essa gente, não sobra muito o que fazer, acho que esse é o dilema do mundo)
(segundo: a principal diferença por assim dizer oriental na Turquia é a falta da bolha, quer dizer, aquela coisa européia do espaço vital; todo mundo invade o onde-começa-o-direito-do-outro o tempo todo, comerciantes e etc., mas também no tratamento geral, falta a tal polidez inglesa. No Brasil não sei dizer, a bolha existe nos clubs dos jardins, já na rodoviária sei não.)
(terceiro: uma boa forma de evitar os turistas fazerem gracinhas com os guardas-estátua: ponha uma metralhadora na mão de cada um; não precisa nem estar carregada)
De Ephesus, saí correndo pra mergulhar no Egeu pelo menos uma vez, salgar a bunda como fala o Rafa, e dei sorte de encontrar um casal legal pra me dar carona senão tinha perdido o busão da volta. Mas como diz o Danilo, meu anjo é forte e isso apesar de mim.
Fotos depois, que tem fila aqui. Mapa só no fim da viagem, ora, se nem eu sei! E se eu falar pra onde vou agora vocês não vão acreditar...

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