sábado, 18 de agosto de 2007

Retrospectivas 2: Estônia/Letônia

Estônia e Letônia (e, difícil não incluir no pacote, a não-visitada Lituânia) são países que, digamos assim, precisam de justificativa. Por exemplo, se você falar que vai ficar uma semana na França e outra na Itália, passando dois dias na Suíça, ninguém nunca vai te responder com um Por quê?. Mas, pelo menos no Brasil, a gente precisa de um motivo pra ir pros países bálticos, e isso mesmo pra quem vai desembarcar na Noruega, passar pela Suécia e pela Finlândia e terminar a viagem na Rússia, ou seja, não parece existir razão pra se deter nesses lugares onde não tem nada. Nesse sentido, visitar os bálticos é um pouco que nem uma pessoa de outro continente visitar o Rio, Salvador e Amazônia e passar um fim-de-semana em São Paulo entre um e outro. A pergunta, Você conhece alguém lá?, sai até sem querer.

E claro que o motivo da minha passagem pelo báltico é exatamente o mesmo da passagem da maioria dos estrangeiros em férias pela cidade da qual nos orgulhamos tanto: a casualidade de o avião descer lá.

É que devem existir várias companhias aéreas que fazem Istambul-Moscou, mas a questão toda é que o fenômeno das low cost ainda não chegou nessa rota, e isso sairia fácil uns 400 euros. Então descobri a Air Baltic, que tinha preços de Sky Europe pro maior trajeto de toda a viagem, cortei um dia de Moscou e um de São Petersburgo e resolvi conhecer Riga, Letônia, e Tallinn, Estônia. Uma boa idéia.

O mote Leste Europeu é tão forte nesses países como nas populares República Tcheca, Hungria e Polônia: são povos com unidade cultural mais que milenar e que desde que se lembram foram dominados sem cessar por cada império, mínimo ou imenso, que se formou entre o Reno e os Urais. Assim é que russos, alemães, suecos, e, no caso da não-visitada Lituânia, até os poloneses, também sempre ocupados por terceiros, se alternaram como donos dos territórios dos países bálticos, incluindo privatizações, com vendas ocasionais desses países pra ordens religiosas e ligas de comércio.

Enfim independentes, após a 1ª Guerra Mundial e o fim dos impérios do Leste, não demorou para a União Soviética decidir se estender até o mar e aceitar, de coração aberto, proteger essas pequenas repúblicas indefesas, enviando para a Sibéria ou sumindo com vários bálticos azarados no processo. Na década de 90, com o fim da URSS e do tal socialismo real (às vezes real demais) esses países, aí sim independentes, como bons meninos, em menos de 10 anos aderiram à OTAN e à União Européia. Agora vai.

Então no verão pelo menos, que é quando as pessoas podem sair de casa, tanto Riga quanto Tallinn são invadidas (figurativamente falando) por milhares de turistas, que fortalecem a economia local e trazem divisas, e as cidades ficam tão independentes quanto esses alemães, franceses e americanos permitem. Para a galerinha dos albergues, o padrão de sucesso Leste Europeu continua valendo, ou seja, cidades históricas com castelos e igrejas restaurados parecendo saídos de alguma confeitaria, somados com população eslava (e, sei lá, fino-úgrica) branquinha e preços bem mais em conta que na Europa tradicional dos mochileiros brasileiros, principalmente pra cerveja e vodca (e, aparentemente, prostituição).

Em qualquer lugar tem mapinhas da cidade com pontos turísticos, frases pra dizer na balada e propaganda de lugares pra comer, dançar e comprar cerveja e vodca (e garotas eslavas). A única desvantagem mesmo é que, voltando pra casa sem foto na frente da Torre Eiffel, da Mesquita Azul ou do Kremlin (que não dá pra tirar foto na frente, mas a gente simplifica falando assim), você vai ter que dar uma boa explicação de por que ter passado uns dias na Estônia e na Letônia - e, quem sabe, na Lituânia.

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