sábado, 23 de junho de 2007

Uma cidade para morrer

Depois da passagem por Bilbao e de recarregar a bateria com o Danilo, a mãe dele e os avós me alimentando em dois dias de vida feliz Barcelonesa, caímos eu e ele na estrada de novo. O Danilo não largou a vida de advogado, então o mais precioso que tínhamos era o tempo - o tempo dos advogados, como o ouro do Sílvio Santos, é coisa que vale mais do que dinheiro. Tive tempo de passar na Casa Milá, com tudo sobre o Gaudí, e que recomendo, principalmente a entrada pela Fundação Caixa Catalunya, com tudo sobre o processo de criação desse insano que ergueu no mediterrâneo, nas entranhas de Barcelona, toda uma cidade própria.
(pelo passo aqui como lá, em breve todos os centros culturais pertencerão às instituições financeiras; nada que não tenha acontecido com a igreja, noutra época)
Então pegamos o vôo da madrugada pra Sevilha. Minha avó dizia mas a gente escuta sem dar muita bola, sempre - Sevilha é a cidade mais bonita até agora, e acho que não digo nem até agora nesse um mês, mas até agora nesses vinte e quatro anos. É que o Rio atravessa um pouco no meio, mas Sevilha é assim: uma imensa catedral forrada de tesouros, com um pátio de laranjas (marca registrada dos árabes) cercado por uma muralha mourisca e guarnecida por uma torre também com sabor islâmico, La Giralda. Ao lado, o Alcázar, até hoje residência dos Reis de Espanha e construído por partes que vão montando uma história. Em frente, os jardins geométricos, com mais laranjas. E em volta desses dois monumentos uma cidade velha reluzente de arcos e ladrilhos. A nossa pensão, a San Pancracio, dava uns dois parágrafos sozinha. Pagamos 17 euros e meio cada um. Na noite que passamos lá, ainda tivemos flamenco, e assistimos a um cantaor, um tocaor e dois bailaores destilarem duende. A Andaluzia fez sua introdução sem o menor esforço de causar maravilhamento, que logo completarei com Córdoba, Granada e uma outra cidade, que pode ou não ser Málaga. Cidade mais recomendada para Luas de Mel e para fins de vida do que qualquer outra do ocidente. Até agora.
Depois de Sevilha, complicou pra Toledo. Pegamos o vôo da noite pra Madrid, e o último ônibus saía pra Toledo à meia noite, então foi um percurso tenso até chegarmos ao albergue às duas da manhã e vermos que efetivamente o dono abriu a porta. A cidade é bonita e tal, medieval com castelos, mas a dica é: não vá logo depois de voltar da Andaluzia, e sim antes. A sensação é de que o ocidente simplesmente não pode igualar a maestria dos irmãos de Averróis e Avicenas.
Bem, essa sensação fica um pouco amenizada com Lisboa. Fomos ontem ao Mosteiro dos Jerónimos, que sobreviveu ao terremoto de 1755 (famoso pela boca do Voltaire, algo que curiosamente ninguém menciona), e é o gótico no seu ponto mais deslumbrante, uma teia de arcos em pedra branca dedicado à devoção antigamente, e ao turismo atualmente. Fantástico.
Noto que em Lisboa tive o mais grave dos meus pequenos incidentes até agora. Um carteirista tentou levar a minha carteira mágica no autocarro. Ou melhor, ele conseguiu, por alguns minutos, mas ela não se chama carteira mágica à toa. Eu, que tinha tido desde que entrei no veículo um sentido de ficar comentando com o Danilo as constantes placas de cuidado com os carteiristas/attention aux pickpockets/beware of pickpockets, notei o bolso aberto e que antes estava fechado - e sem a carteira. O motorista estava muito longe, então tudo o que eu pude fazer foi pegar o sujeito ao lado e começar a falar pra ele que ele tinha roubado minha carteira e mexer nas coisas do cara, até ver a carteira no chão, pegar e olhar pro cara e pedir desculpas com entonação de saber que foi ele. O Danilo comentou isso e eu disse que sabia, mas não ia arrumar dor-de-cabeça.
Hoje é ir pra Belém, que dizem que é imperdível, e amanhã logo cedo partir pra Madrid. Fotos de lá, talvez no corpo do texto.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cheguei de viagem hoje e vim saber o que você anda aprontando por aí. Legal ler esses teus relatos, só sinto falta das fotos e de novos poemas no dragão (olha só quem fala, os tomates estão imobilizados há semanas), mas presumo que teus dias estejam sendo agitados demais para se preocupar com tais coisas.

Saudades!
Beijos.

Geraldo disse...

Um pouco, é mais que falta tempo nas horas certas, mas ando contruindo umas coisas aí, quem sabe na volta non sai nada. Teu caderninho tá sendo bem utilizado, no te preocupes.

Bjos!