quarta-feira, 13 de junho de 2007

De como entrar no país basco

Em primeiro lugar, é preciso estar num lugar próximo como Zaragoza, e desistir pelo adiantado da hora, mas principalmente pela desorganização da rede nacional de transportes, de passar em Olite, Navarra. Sério, é uma zona. De você chegar às 3h15, o seu ônibus ser 3h30, e não ter ninguém na estação. Ninguém. Nadie. Ningú. Ninguén. Inor. Daí se vai direto pra San Sebastián, ou Donostie.

Daí no ônibus tem um cara completamente bêbado e enquanto você está ouvindo Adoniran pra se sentir um pouco superior ele te pergunta o que te deixa tão feliz, e depois pede pra ouvir e diz que ele é um verdadeiro basco e que aquilo é precioso, e aí pergunta se você tem música clássica. Você põe Beethoven e ele fica dizendo o quanto é maravilhoso por uns cinco minutos até se cansar e começar a incomodar os outros passageiros para que ouçam também, inclusive uma menina de uns oito anos. Os outros não se interessam muito e ele começa a deitar na menina um pouco gorda sentada ao lado dele, mas ela o repele e todos ficam meio contra ele enquanto ele ainda está com seus fones, e você está um pouco: mas o cara é praticamente um descendente dos atlantes e vocês aí reclamando, ele é praticamente uma lenda, um descendente de Jesus como os reis antigos, deixem ele fazer o que quiser. Então finalmente ele se cansa e volta pro lugar dele, e depois de algum sono você está em San Sebastian.

Algum dia tinha que acontecer, e San Sebastián, justamente a melhor das praias, está totalmente nublado e você vai conhecer a costa mesmo assim, e à noite começa uma chuva muito chata após a qual, e depois de alguns pintxos, você resolve dormir pra esperar o dia seguinte como em Santiago onde o dia seguinte estava fantástico, mas o dia amanhece nublado e você sai para um passeio no morro. O morro é cheio de coníferas e de uma árvore basca que é uma metáfora pronta e que vai se desfazendo conforme cresce e os galhos se apartam, e o nublado confere ao clima todo um ar japonês apesar dos canhões e da imagem do Cristo sobre o morro, e você ouve uma missa que espera que seja em basco mas é em castelhano mesmo.

Depois de uma consulta pra verificar que realmente o nublado será por uns bons dias você decide sair de San Sebastián e vai pra Gernika, onde tudo é basco mesmo e sem aquelas concessões de cidade turística. Lá é muito mais que uma cidade bombardeada, foi e reunião do Parlamento basco por vários séculos e por isso foi bombardeada, e você fica simplesmente sentindo a vida dessa gente de outro planeta enquanto perambula e visita os lugares, até resolver ir dormir no seu albergue de peregrinos em que nada está escrito em outra língua exceto basco.

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