domingo, 10 de junho de 2007

Momentos de Barcelona

Momento 1: estou andando nas Ramblas com o Pedro, um intercambista da GV que mora com o Gui no apartamento mais central de Barça onde vivi os últimos 5 dias nessa Vida Erasmus, e ele me comenta alguma coisa na linha de 'A verdade é que essa cidade é bem feia'.

Momento 2: estou com o Danilo, amigo do escritório que se orgulha das origens catalãs e está passando as férias na cidade com os avós, e ele constata que os turistas acabam meio que destruindo a cidade, ou pelo menos a cidade como entidade peculiar, com as coisas tipicamente barcelonesas ou catalãs ou espanholas. 'Nem parece que você tá na Espanha'.

Tem algo de incrivelmente triste no que acontece com Barcelona. Me lembra um artigo do Umberto Eco numa EntreLivros de agora que se chamava 'O falso necessário', sobre um templo grego de mentirinha que estão fazendo pra evitar que os turistas destruam os templos de verdade. Segundo o Eco, fazer isso é assustador e necessário.

É um comentário até banal (e, diria o Urso, fruto do meu senso comum particular) e acho que já fiz uma diatribezinha sobre isso aqui embaixo, mas vamos lá: da mesma forma que os condomínios que anunciam que você vai morar em meio ao verde são exatamente aquilo que destrói o verde que ainda existe em volta das cidades, o turista que vai conhecer as coisas tipicamente catalãs é a mesma pessoa que destrói essas coisas, ou ao menos as coisas no seu aspecto digamos assim mais autêntico, 'mais Câmara Cascudo, saca?' O meu Lonely Planet, por exemplo, está cheio de dicas de lugares super típicos e não turísticos, onde um espanhol mal-humorado te serve sem a menor pretensão de ser acolhedor. Bem, compramos o Lonely Planet eu e mais 350.000 pessoas, sendo bonzinho, que vamos todos atrás do lugarzinho típico - que vai durar mais 2 verões até expandir pras casas do lado e contratar garçons sorridentes, talvez inclusive brasileiros. E aí colocar a plaquinha 'Raciones típicas catalanas/Typical Catalan dishes'. Em castelhano, e inglês.

Por isso ao deixar Barcelona e vir para Zaragoza, de onde escrevo, uma sensação boa toma conta do corpo (mesmo com os 20Kg de mochila de volta às costas). Se faltam edifícios restaurados para se parecerem exatamente com aquilo que desejávamos poder fotografar, aqui espanhóis bebem cerveja domingo à tarde e põem suas crianças pra brincarem de tiro nas praças, e batem boca sobre a responsabilidade pela derrota do Barça ontem. E, apesar de a cidade ser bonita e ter uns belos monumentos dos quais provavelmente falarei em breve (e embora o dono deste CyberCafé e seus amigos provavelmente estejam falando árabe e não um legítimo dialeto hispânico), ainda não tem aqui uma avalanche de turistas pra transformar as igrejas locais em simba safaris onde a população tenta rezar em meio aos flashes. Aliás, muito prazer.

Todas essas reflexões, lógico, não me impediram de me dissolver na massa de americanos, alemães, holandeses, franceses e até espanhóis, e visitar a Sagrada Família (detalhe: o Pedro aí de cima ainda não foi. Explicação: ah, quando vierem meus pais ou turistas aqui eu vou junto. O Gui já teve umas 5 vezes que ir ver a Sagrada Família.) e o Parc Güell e o Montjüic e todos os cartões postais, e ver o Museu Picasso e o Museu Mirò e tudo isso. Mas é aquela sensação de estar vivendo um processo até bem adiantado nas cidades mais in, mais hype, e que, quando estiver terminado, terá destruído tudo de peculiar que existe no mundo e substituído por uma plaquinha 'Typical local dishes'.

Fotos amanhã, que hoje o árabe aqui vai fechar. Não sei quem fala espanhol pior.

2 comentários:

Anônimo disse...

legal, gg.
seus textos estão cada vez melhores.
só tenho que dizer que sinto falta de alguns poemas seus aqui apenas.
abraço!
pm

Fábio Aristimunho disse...

Até eu senti a nostalgia, e se estivesse aí já tinha saído pra procurar umas 'Typical local dishes'.

Salutacions