segunda-feira, 28 de maio de 2007

O Encontro não terminou, só mudou de lugar




Foi mais o menos assim que aconteceu:

Eu estava nas minhas conjecturas sobre se ia ver os mosteiros centrais em Portugal ou se comprava uma bicicleta quando o Márcio-André, que já deu as caras por aqui, me informa que está vindo com o Jon passar ao menos um dia no Porto. Eu já tinha ido ao Porto, pensei, embora tenha deixado escapar a mais tradicional atividade local, que consiste em beber vários tipos de vinho à beira do Douro e ficar falando sobre como eles são diferente uns dos outros com palavras como 'amadeirado' e 'abacaxi'. A companhia era boa.

Mas duas circunstâncias foram decisivas: primeiro, o poeta carioca tinha uma passagem e ia perder a viagem, como alguém já disse, de forma que eu até voltaria de graça; mas, segundo, o motivo pelo qual ele não ia usar a passagem era que viria pra cá em caravana com a poeta portuguesa Ana Raquel Fernandes, que não tinha aparecido na nossa história.

Sobre ser de graça, claro que podem me reprovar e aposto que minha avó não ficaria muito orgulhosa dessa parte exceto pelo um pouquinho de ascetismo quase espiritual da coisa, mas a realidade é que aqui vivo, e mesmo procuro viver, como remediado mesmo. Note-se contudo a preposição que é meramente comparativa, já que, como quem faz pindura sabe bem, a classe das pessoas desprovidas de recursos é muito diferente da das pessoas que dispõem dos recursos, mas não desejam pagar a conta. Confundir as duas é gafe na certa.

Mesmo assim, consciente, tenho no viver na berlinda um certo prazer entre elevado e mesquinho. Ana Raquel, muito atenciosa, até chegou a me reprovar o estar comendo quase sempre uma única refeição por dia, dizendo que preciso comer ou não chego a Moscou. Ontem, por exemplo, meu café da manhã foi meio que um misto quente local (a €0,95) e o almojanta uma sopa de legumes de 1 euro, mais um pão por €0,30. Com uma vista de um jardinzinho fantástico (ao lado), mas de 1 euro. Depois acabamos comendo num lugarzinho, que como tudo por aqui lembra a crônica homônima do Veríssimo (acho que tá no Orgias), mas tenho ficado nessa. E ninguém no Encontro acreditava nos meus albergues de 10 e 15 euros, alguns com café da manhã.

Ou seja, vim, e com passagem, sem pagar os 20 euros. Mas o principal: descobri que o Stephen Rodefer (cliquem pra terem uma idéia do que está acontecendo), o cara da algibeira com garrafas e copos, está indo daqui pra algum lugar na fronteira com a Espanha, onde ele vai assistir gravarem um filme. Como o amigo Penin me forneceu valiosos contatos na Galiza (aka Galícia) e está meio que no meu schedule ir pra lá depois de amanhã, na hora me empolguei. [Aliás, acabo de skypear pro Abel.] De forma que ficamos hoje aqui ao menos eu, o Márcio-André, o Jon, o Stephen e a Ana Raquel (isso se hoje eles não conseguiram arrastar um dos portugueses, ou o chinês, ou o russo), provavelmente experimentando todas as dezenas de portos a 2 euros a garrafa que existem por aqui, à beira do Douro - e não que o Mondego não seja bonito, mas o Douro é pessoano. A comparar com o Tejo.

E amanhã ou depois entro num carro ou van com o último dos beats e minha viagem disneylândica vai virando uma road trip, porque se passar perto de ourense, que não só abriga a família do Penin como dizem que é o berço da minha, certeza que do set tomo um ônibus pra lá.

P.S. - O mundo me assusta: pedi informação pra uma menina na rodoviária do Porto e : (i) era viajante; (ii) era brasileira; e (iii) conhece o Márcio-André por e-mails. Peguei o contato, vamos ver. Em seguida comi uma francesinha, orgulho nacional aqui: é tipo um sanduíche de bife, lingüiça e presunto, só que à parmegiana. Como no caso das fish'n'chips, cujo sucesso entre os súditos da rainha mundo afora sempre me espanta, não se admira que o prato não seja sucesso internacional. Sou mais o bacalhau.

P.P.S. - Sei que uma das coisas no mundo que não controlo é quem se ofende com a palavra proferida, como falam os chineses. Mas os amigos lusitanos tenham em mente que nossa língua lá nos trópicos não é precisa como a de vocês aqui, e a leitura pode ser escorregadia; às vezes digo uma coisa querendo dizer outra. E o ofensivo na aparência pode muito bem ser invertido na essência - exceto que esta última não existe; percebem? Car je n'aime pas q' on lise mon livre à la legère, já dizia o cara do Pequeno Príncipe.


P.P.P.S. - Sinto que minha viagem terá uma curta escala na Holanda entre a península e zentereuropa...

2 comentários:

Carol M. disse...

Mensch, que cara de trêbado é essa, criatura? Pelo jeito os encontros etílicos nessas terras além-mar são ainda mais doidos do que os nossos na Roosevelt.
Take care (ou não!).

Küssien!

GGG disse...

Então trata-se DO Rodefer... Legal.

Pela sua cara e posição na foto, precariamente sustentado pelos pilares morena e ruiva, é verdadeiramente espantoso que você se lembre de tudo isso aí!!!
Se for comprar a tal da bicicleta, compre uma de rodinhas.

Oswaldianamente ao inverso, não li, mas já gostei da Ana Raquel: pão-dure menos e coma melhor um pouco, muquirana (pleonasmo?).

Beba todas, de preferência as boas (que devem custar um pouquinho mais de 2 euros...), mas alimente-se melhor, porque nem só de comer francesinhas se pode sobreviver pra contar o resto das impressões.

Gê pai