quinta-feira, 24 de maio de 2007

Chegada ao Porto


Cheguei ontem ao Porto, Portugal. Um vôo tranqüilo e uma escala no aeroporto internacional de Madri, tão iluminado e colorido que dá a impressão de um filme sobre a moderna Tóquio, exceto que, talvez para impressionar os turistas, o lugar é gigantesco e perdi a conta de por quantas esteiras rolantes e elevadores passei, fora o metrô interno que serve exclusivamente o aeroporto. Desci então no Porto, primeira escala de uma viagem de paradas incertas onde só sei do início e do final - e não como uma homenagem ao Machado, mas principalmente em razão de as passagens, compradas com milhas, já terem sido emitidas. A volta é de Moscou, em 9 de agosto, e pronto.

Sobre o Porto propriamente dito, aviso a quem poderia estar com idéias de vir até aqui em busca de uma viagem no tempo, do encontro perdido com um passado mítico todo ele português, que nesse aspecto é tudo muito parecido com Ouro Preto, sendo bastante mais caro e incômodo atravessar o Atlântico. É que aparentemente entre os séculos XVI e XVIII era incontrolável o impulso português de construir igrejas e mais igrejas onde quer que se encontrasse um local um pouco mais íngreme; como acabei comprando uma máquina fotográfica, vocês podem ver umas primeiras amostras da paisagem ouropretana, ou portense, das margens do Douro.

Estou hospedado no 'Residencial Reis'. Residenciais são os albergues locais, todos verticais e sem aquela tradição dos albergues mais ao norte (ou muito mais ao sul, na Oceania) de ter quartos para 8 ou 10 pessoas que nunca se viram na vida. Pago 20 euros a noite, e subo algo como 4 lances de escada sempre que quero chegar lá, mas o lado bom é ter uma cama, móveis e um banheiro exclusivos. Vamos ver se consigo piorar essas condições ao longo da viagem.

O lado ruim é que não faço amigos de quarto. Aliás, durante o dia a impressão que se tem por aqui é de que 80% da população é terceira idade, de tanto turista sexagenário rodando no centro. De forma que meus amigos de viagem até agora são 3 brasileiros: uma catarinense que encontrei no metrô e estuda em Braga, e que devo visitar em breve; e um casal de irmãos vindo do Caminho de Santiago e originário de Campinas, que provavelmente conheço orkutianamente em 2 lances. Devo ir degustar vinho do Porto com eles logo que terminar aqui.

Os portugueses em si e europeus em geral são mais frios também, como se sabe. Se incomodam bastante se você tenta esticar uma conversa além do necessário, e têm o sentido do trabalho muito enraizado quando estão trabalhando. Inclusive, já levei duas vezes 'Eu não deixo' de funcionários, frase que, construída assim, com sujeito e verbo, é muito estranha de ouvir. Primeiro, da faxineira do banheiro do McDonald's, que eu queria usar (o banheiro, não a faxineira) após o horário de fechamento; e, segundo, do vigia de uma torre, que não me deixou subir porque vinha chegando o horário de almoço e não ia dar tempo de fazer a visita. Quem está acostumado com subserviência total ou, no mínimo, uma desculpa sorridente, estranha. Mas aqui é tudo regulado pelos relógios - melhor não precisar de nada entre as 12h30 e as 14h00, porque a loja, não importa muito do quê, vai estar fechada. Inclusive se for ponto turístico.

A única classe de portugueses amigáveis é a dos Homens Sentados no Bar. Ia dizer Velhos, mas na verdade a classe compreende toda uma faixa de casados dos 30 aos 80 (as mulheres ou ficam em casa ou estão trabalhando, e nenhuma das duas opções é muito politicamente correta) que passam as tardes nas caves batendo papo, um pouco como no Brasil exceto que: (i) o vinho disputa com a cerveja na preferência regional; e (ii) todos eles parecem ter se vestido e preparado pra aparecer como figurante português em alguma novela. Gostei bastante deles, como em geral gostei da vida não-turística da cidade. Gente morando em casas de 300 anos, prédios medievais com roupa pendurada e até paredes do século XVI com grafite bem-feito (ok, isso deve ser pouco popular; vou tentar fotografar) - toda essa vida que parece rir um pouco dessa legião flutuante de senhores e senhoras trajados como turistas andando pra lá e pra cá nas ruas.

Rindo, mas parece que não explorando. É curioso, mas os preços variam muito pouco entre os restaurantes nos rincões e os guarda-sóis à beira do Douro. Inclusive as coisas por aqui são bem baratas, nada daquela coisa de ser o mesmo preço do Brasil, só que em euro. Um sanduíche típico custa entre €1 e €2, um prato uns €3.50, um copo de Porto coisa de €1.50 e uma camiseta €5. Industrializados em geral são baratos comparados com o 'custo-sobrevivência', digamos assim, e isso também nos estranha. Mas ouvi também que Portugal é o país mais barato da Europa ocidental.
Ainda bem que vou parar nos Pireneus.
***

São umas primeiras impressões transatlânticas. Vamos ver se daqui esquenta.

5 comentários:

ana rüsche disse...

oi, gg!

bom te ler, te seguiremos daqui, claro.

recebi um e-mail sobre um VI encontro internacional de Poetas em Coimbra (de 24 a 27 de maio): http://www.uc.pt/poetas. quem sabe vc não cola por lá?! o márcio andré foi quem me enviou o email.

beijinhos todos e longa vida ao blogue.

GGG disse...

Vâmu qui vâmu...
E os senhores da foto 3, quem são?
Interessante a fortaleza medieval da foto 7, até pelo simbiótico com prédio aparentemente colado a ela. Tem nome e/ou dados históricos a respeito? Mas não se dê ao trabalho de pesquisas.
Se der p'ra ir ao encontro de poetas mencionado pela Ana, mande um resumo, com nomes e talvez url de obras. Papai e Betty vão adorar.
Habe Sie eine gute Zeit!
Küsse,
Geraldo Pai

GGG disse...

P.S.:
Súbito me dei conta de não ser nada improvável que você se depare com Ouros Pretos por toda Portugal.
Os diferenciais serão simbioses como destaquei, talvez.
Geraldo pai

Carol M. disse...

Olha só, o pequeno dragão alçando vôos noutras terras! Ficou ótimo o 'impressões', Gê!
Divirta-se e siga nos mandando notícias [tô curiosa para ver se teu fôlego de postar com tamanha riqueza de detalhes resiste até Moscou].
Ah, e não esqueça a Sachertorte, hahahá!

Vielen Küssen!

GGG disse...

Continua vivo o blog Impressões Transatlânticas!