domingo, 27 de maio de 2007

Coimbra e o encontro internacional

Desisti de Guimarães, ao menos por ora, e vim pra Coimbra ver se aprendo alguma coisa. O que se passava é que aqui estava rolando o VI Encontro Internacional de Poetas, e a ana rüsche me passou a dica de um cara que se chama Márcio André e que estaria aqui no evento. Vim atrás, e revelou-se que: (i) a ana nem conhecia o sujeito, só por e-mail; (ii) o cara é poeta mesmo, como se diz por aí (ver adiante); e (iii) trata-se de um puta carioca gente-fina, que logo me colocou na roda, composta por ele, um inglês pirado, um distinto senhor americano-que-mora-em-Paris-e-anda-com-copos-e-garrafas-(halbvoll)-nos-bolsos, dois cabo-verdeanos, uma angolana, uma finlandesa - sendo todos os retrocitados poetas nos seus respectivos países - e umas meninas estudantes portuguesinhas tentando garantir que todos eles voltem vivos pras suas pátrias, tarefa que vai ficando progressivamente mais difícil conforme a noite se estende e os copos se enchem.

De forma que ontem assisti a uma performance de um português ferrado chamado Alberto Pimenta, depois rodamos uns bares e por pouco não acabamos numa balada coimbrense 'africana', cujo hit aparentemente era Atoladinha. Fomos salvos pelo inglês pirado, que se encontrava incapaz de se manter de pé - aqui é probido entrar na balada bêbado - e fizemos o percurso de volta pro hotel deles numa velocidade média de 10m/minuto. Fantástico!

Hoje, depois de 4h de sono e mais umas leituras, dispensei o almoço chique com discursos, encontro eles mais à noite, e rodei a cidade acompanhado da alemã Andrea, que vai começar o doutorado em química aqui. Conheci do nada, e tô ficando tão bom nisso que ontem fui jantar num lugar recomendado pelo Lonely Planet e terminei conversando sobre a sociedade portuguesa com um médico coimbrense chamado Vasco, especializado em medicina da família.
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O idioma é uma coisa à parte. Óbvio que eu fico tentando mimetizar o sotaque português quando falo com eles, e óbvio que com taxas de sucesso negligenciáveis. Em especial porque ficar falando com o maxilar pra frente cansa depois de uns dois minutos, e o sotaque então vai fading back de volta pro paulistês, com passagens tipo rolar os 'rr' e usar palavras engraçadas, que nunca sei quais pode ('parvoíce') e quais não pode ('rapariga') usar.
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Nas mesas internacionais, reina o novo sabir, que consiste basicamente, aqui, num português misturado com inglês e contribuições importantes de espanhol, francês, alemão e sueco - sendo que claro que dificilmente uma frase vai ser compreendida por todas as pessoas que estão numa mesma mesa, mas vamos nos entendendo. Até porque é impressionante o quanto o holandês, por exemplo, após umas cervejas se transforma numa mera mistura de inglês com alemão, perfeitamente compreensível, na essência, até pra quem não fala inglês nem alemão.
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Anoto que conversar com os portugueses é bem engraçado: aqui é como a São Francisco quando tem visitantes gringos ou escolas, só que o tempo todo; ou seja, de uma certa forma, é como se os locais e estudantes morassem na Disney, sendo que eles são parte da atração, e a boina é o equivalente local das orelhas do Mickey. A boina praticamente faz o Manuel - mas, depois de algum treino, eles são perfeitamente reconhecíveis sem elas. Eu mesmo estou quase comprando uma.
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Próximo passo: ver se consigo contato com o amigo Felipe Sentelhas, da SanFran, caso em que fico mais um tempo aqui. Se não, acho que é acordar amanhã, ver mais umas coisas que faltam e partir pro próximo passo - penso que os mosteiros, ao sul, de Batalha e Alcabaça. Depois disso não sei. Ou volto pro norte (Guimarães, como planejado, Vila Nova Real, como me falaram, ou até de volta pro Porto, onde estará o suprareferido inglês pirado, fechando seu novo livro à beira do Douro); ou deixo o inglês pirado, e vamos chamá-lo de Jon, caso ele apareça de novo na nossa história, pra visitar em Coventry e sigo até Lisboa, ver se pego um desses low fare pra A Coruña, que pode sair até mais barato que o trem.
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Mas pode ser também que nada disso.
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Márcio André (que desde já recomendo, pelas qualidades literárias, sociais e etílicas):
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Os Ornamentos
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e o homem foi arrancado da casca da árvore
e acrescido de dentes e olhos
e foi trançado dia e dotado de ouvido
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e ouviu:
o trigo roçando o éter de Galileu
os pés descalços
a grama úmida de hortelã -
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e ouviu:
..........a pele inviolável
..........de seu corpo inviolável
[germinar lagartas nos arremedos de vértebra]
..........flanco e dorso
..........das carcaças de pachiderme
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um hipopótamo sonhando entre os girassóis

3 comentários:

Julia Dietrich disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Julia Dietrich disse...

Ora pois, e não que a viagem é extremamente cultural? e viva as beldades e os beberrões!
Rs....saudades, meu caro.
Recado recebido. Pouco entendido. (as usual)....sigo por aqui ouvindo Sarah Vaughn ou aquele grupo zoológico....lembra?!
bacio (com um c único ou com um único c)....

GGG disse...

A url do Márcio André é
http://acd.ufrj.br/~joruge/abertura1.htm
Nada ver com a que está aí.

Aliás, site muito interessnte o dele.

O americano-que-mora-em-Paris-e-anda-com-garrafa-e-copos-no-bolso é o Rodefer? Se for, certa crítica define seu trabalho como " a force of nature".

'inda tô rolando de rir com esta parte ds "impressões". Ora poish, de maxilar pra frente e tudo.

Gê pai